domingo, 13 de setembro de 2009

Faça uma lista - ou não.

"Tequila gelada, pão com leite condensado, suco de abacaxi com hortelã. "
Ela fazia uma lista de coisas que precisava exprerimentar antes de morrer e, dessa vez, era na área da cozinha - ou do bar, como preferir.
Já havia feito listas nas áreas sentimentais, sexuais, profissionais e, agora só restava a cozinha. Parada de forma irônica de frente para a mesma, pensava que essa lista era um tanto macabra para um momento tão feliz quanto o que estava vivendo.
Casada com um homem incrível, vida sexual ativíssima, casa deslumbrante e emprego dos sonhos, não tinha como haver nada errado. Então, pra quê aquelas listas de 'o que fazer antes de morrer'? Nem ela sabia responder. Só sabia que tinha que fazê-las...
Não era nada como uma herança da mãe, da avó ou das tias velhacas, era realmente uma coisa dela! Vinha de dentro.
Olhava para o sofá e via o homem da sua vida vendo TV em um som brando, diferente do seu vizinho que quase cometia um crime à seus ouvidos. Pensava em como tinha sorte.
Desviava o olhar do marido para o sofá.
Meu Deus, que sofá!
Era algo maravilhoso, realmente de outro mundo. Não podia haver sofá mais chique e confortável que aquele. Pensava em como tinha sorte.
Logo depois voltava seus olhos pra sua última lista e, tornava a pensar em por quê fazê-la.
Via suas unhas artisticamente feitas, em um comprimento divino. Pensava em como tinha sorte.
Seus olhos inundaram-se de lágrimas de forma súbita e, naquele momento ela percebeu o motivo das listas.
A vida inteira tinha feito listas.
Lista de presentes, de brinquedos, de aniversário, de amigos, de namorados, de cores, de tudo... absolutamente tudo!
Sempre teve uma meta, um objetivo claro na vida.
O seu marido estava na lista, seu emprego estava na lista, sua casa e até seu sofá estavam na lista. Tudo, tudo, tudo! Nada fugia do seu controle.
E agora, ela se via cercada de todas as coisas que sempre listou, ou almejou, como queira.
Não havia mais motivos para continuar lutando. Pensou de imediato das aulas de redação que tinha na escola quando se falava de suicídios dos países desenvolvidos, onde tudo é sempre mais fácil. Não estava nem perto de se suícidar, mas estava fazendo listas de coisas não mais significativas. Já não haviam motivos para continuar.
Olhou novamente para seu sofá e seu marido, novamente para sua casa perfeita, para suas unhas perfeitas e viu que às vezes fazer listas não é tão bom assim.
Sorriu para ele, pegou as chaves e saiu.
Dessa vez o caminho que ela ia seguir não estava na lista.
Na verdade, nunca deveria estar.

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Já não noto quantos dias se passaram; já não me fazem falta.
Os calendários pararam de marcar as datas significativas, ou elas apenas não existem mais?
Os dias correm tanto, cada dia é alguém, quero dizer, algo novo.
Essa rotina estressante do novo pode cansar, sabem?
Tantas marcações não fazem parte dessa nova vida.
Não, eu não a escolhi pra mim!

Sim, prefiro acreditar que tudo é obra do destino, minha vida está traçada desde que eu nasci e, não tenho definitivamente nada haver com isso.

Falta um pouco de lugar preenchido, um pouco de credibilidade, talvez.
Credibilidade em alguns novos. Alguns novos dias podem me trazer boas lembranças, bons abrendizados... tudo isso depende da credibilidade que dou à eles.
É um jogo constante de perguntas sem respostas. Ou nem existam perguntas, apenas o jogo por jogar...
Games são bons para passar o tempo.
Game over, quer dizer o quê de fato? Fim do jogo?

Gosto de jogar, mas ganhar - ganhar? - acaba cansando.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

(Des)Acreditar

Tudo que sai da boca alheia já não convence.
Hoje, nem mesmo as atitudes iriam me convencer.
Não se sabe o quão bom ator alguém é até que ele entre em cena. Sendo assim, não quero fazer parte da farsa de mais ninguém. Visto-me novamente com meus escudos e armaduras - por um período sempre funciona.
Trago na minha mão as mesmas armas que um dia já me feriram, só há uma pequena diferença, eu aprendi a manejá-las de outra forma.
Sim, nesse momento me sinto fria, maléfica e qualquer outro adjetivo horrendo que vier à sua cabeça. Motivos não me faltam.
Sinto-me petrificar por dentro, acabando de vez com todo o espaço quente e acolhedor que um dia já existiu.
Um dia...
Onde hoje existem as tais armas, já existiram flores e todo o amor que existe no mundo. Era sempre entregue de mão beijada, sem a menor dificuldade.
Um dia...
Não vou esperar o próximo salto. Não vou descer do meu salto.
Não há espaço no meu palco para mais ninguém.
A luz é toda, toda minha!
Então, fria, maléfica e armada, deixarei toda luz - minha luz - ofuscar, de cima do meu palco, o que eu já não quiser.
As cortinas só fecham quando eu mandar.