segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O samba da moça

Eu quero sambar com meu vestido vermelho, meus sapatos azuis e minhas fitas coloridas na cabeça. Quero entrar na avenida clareando não só a sua vida, mas a de todos que um dia chegarão.
Meu vesitdo azul também me faz feliz, mas eu quero sambar.
E quero sambar com meu vestido vermelho.
Meus sapatos amarelos são tão confortáveis quanto a sua situação, mas eu amo é sambar.
E amo sambar com meus sapatos azuis.
Nesse bloco de falsas alegrias, de muitas alegorias, trago dentro de mim a vontade de sambar, sambar, sambar... com meu vestido vermelho, meus sapatos azuis e minhas fitas coloridas.
Senhor do Bonfim e enfim!
São alguns dias de festas e outro resto de ano de espera. Espera minha, espera sua, espera nossa.
No fundo todos esperam alguma coisa. Sempre esperam alguma coisa...
E eu espero entrar na avenida, tão bonita, menina, quanto meu vestido vermelho, meus sapatos azuis e minhas fitas coloridas na cabeça.
Sambar, sambar, sambar!

domingo, 23 de agosto de 2009

Toalha branca, mesa, taça de vinho.

As flores aparentes na minha janela estão muito bonitas nessa manhã de sábado. O sol entra sem o menor pudôr, sem o menor constrangimento de interromper o ofício atribuído à Morpheu.

- Traga mais uma garrafa!

Consigo abrir um dos meus olhos. Um já é mais do que suficiente!
Esse frio congelante me faz encolher as pernas tão brancas quanto o lençol.
Tento rolar na cama ignorando o intruso, ignorando as vozes. É tudo em vão.

- Deixe-me ajudá-la a tirar...

Preciso levantar! No mínimo, abrir o outro olho - quem sabe assim eu consiga analisar o outro lado da janela.

- Pegue suas coisas, pode ir embora!

Agora com os dois olhos abertos consigo ver melhor... as flores amarelas estão um tanto festivas. Odeio flores amarelas festivas em pleno sábado de manhã!
Pensar em descer todas essas escadas até a cozinha me faz ter vontade de deitar novamente, recolher minhas pernas novamente, esquecer novamente.

- Não esqueça de deixar tudo pago...

E essas coisas que não saem da minha cabeça? Quero cantar alto!
Cantar tão alto quanto o eco dessas lembranças.
Procurar o remédio para dor de cabeça não vai fazê-las parar. Preciso que parem...
Não quero continuar lembrando, não posso!

Lembro que o bater da porta foi o último ruído que eu ouvi, até entrar em transe.
Como eu cheguei até aqui eu não sei. Não sei como subi essas escadas - malditas escadas.
Eu, o objeto em questão, estava totalmente fora de mim.

Não acho o remédio para dor de cabeça. Eu juro que estava nessa gaveta!
Usou de uma sutileza para me seduzir. Falou-me algumas bobagens, algumas frases romanticas tiradas de livretos baratos. Eu caí... sempre acabo caindo.
Alguns beijos nos meus ombros e eu estava entregue. Totalmente entregue.

Era um quarto de hotel barato.
Tão barata quanto eu!
E é só nisso que eu consigo pensar. No quarto de hotel barato...
Depois de tê-lo satisfeito completamente, resolvi que era minha hora.
Ele simplismente ignorou o pedido e, subtamente, virou-se para dormir.
Já haviam me dito que homens comprados eram totalmente frios.
Mas ele não podia ser assim.
Era comprado, eu o tinha comprado, mas para minha plena realização.
Odeio essa merda de coração, nem entender que é tudo uma farsa.

Não adiantou eu tê-lo acordado em berros, tapas e arranhões. Ele jamais entenderia minha verdadeira intenção.
E agiu como todo homem comprado age. E eu? Eu agi como toda mulher de classe agiria.
Quem eu tento enganar? Que classe? Sou mais miserável que essas putas beira-de-rua. Elas são mais dignas de amor. Sou mais digna de pena.
Vesti minha roupa e saí. O ruído da porta foi a última coisa que eu me lembro.

E são justamente em dias assim como este, com um sol lindo e exuberante, com flores amarelas festeiras, que eu percebo o quanto meu limite bancário é pouco para antigir o coração daquele homem.

Por fim, desisti de amá-lo; comprá-lo.
E agora as toalhas já não são tão brancas, já não existe vinho, nem muito menos taça.
Só um copo descartável, água e esse comprimido para dor de cabeça que eu tinha certeza que estava guardado na gaveta.

sábado, 22 de agosto de 2009

Nós estavamos parados ao lado de um casal. Eles pareciam estar mais felizes do que nós...

Nesse momento, todos parecem mais felizes que nós.

Você me apertou a mão, que até consegui sentir um pouco do seu nervosismo.
Olhou pra mim com tanta súplica, que até pensei em te abraçar.
Preferi não interromper nosso momento; eram tão poucos os que nos sobravam.
Uma pena!

Quem nos viu, quem nos vê.

Um breve diálogo entre duas pessoas que já não se conheciam mais. É estranho admitir que, aqueles lá sentados, éramos nós; era estranho admitir que o casal ao lado era o nosso retrato de tempos atrás - se você abrir minha carteira verá.

Bem na nossa frente estava um lindo, muito lindo dia de sol no laguinho.
Dava até pra imaginar os filhos que não queriamos ter, correndo dos gansos, brincando de se matar.
Dava até pra imaginar uma salvação...

Você se virou e perguntou a que horas iamos pra casa.
Era clara sua cara de angústia, de frustração por não conseguir resolver mais esse problema.
Nos levantamos.
De mãos dadas.

Houve um tempo em que andar de mãos dadas era signifcado de afeto, proteção, junção. Houve um tempo!

Demos meia volta no lago.
Meia volta para retornar.

Você continou a me apertar.
Eu continuei a ignorar seu nervosismo.
Nós continuavamos nos sufocando.

Em casa lembrei do casal ao lado.
Em casa lembrei que não queria ser memória.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Nas linhas de um caderno velho, encontram-se borradas algumas poucas palavras que você me escreveu.
Fazem alguns anos e elas continuam alí.
Fazem alguns anos e eu continuo aqui.
Os anos trouxeram novos ares para todos lá fora - inclusive pra você, que insiste em voar para longe de mim.
Mas algo aqui me faz pensar que os novos e bons ares não chegam até mim; decidiram dar meia volta em minha porta.
Me pergunto se você não foi também um bom ar que chegou dando meia volta.
"Volta... "
Essa era uma palavra - ou um apelo - que eu costumava usar muito. Hoje não mais!
Eu continuo aqui, sentada nesse sofá velho, com esses cadernos velhos e sentimentos também velhos.
Talvez eu também tenha envelhecido, afinal, é uma lei da física, não é? Quase como um dogma.
Mas os bons ares continuam dando meia volta em minha porta e eu espero que você chegue em uma volta e meia. Meia hora ainda seria muito...
Muito é quase nada perto dessas suas palavras, desse caderno velho. Dessa velha, mas sempre presente esperança de um dia, os bons ares cansarem de dar meia volta e te colocarem ao meu lado no sofá de novo.