sábado, 28 de fevereiro de 2009


É metade preenchida, metade vazia. Em questão de segundos todos os sentidos se voltam pra o que nós éramos. Existem sabem-se lá quantas milhões de dimensões nos dividindo, sabem-se lá quantas milhões de estrelas nos ultrapassam. Me parece cada dia mais que as memórias vão sendo apagadas, e isso me dói absurdamente. O tempo não tem o direito de apagar a única coisa que restou para mim de nós. Não quero perder, não posso perder essas memórias, essa alegria que te traz pra mim sempre. Tanto tempo já passou, tanta coisa já vivi, e ainda assim, vez ou outra me bate a certeza que sempre volto pra você. Agora não pode ser de fato, mas volto pras minhas lembranças, pra minha segurança. E pensar que isso tudo foi provocado por uma música, pelo reggae, por nosso tempo. Sua falta é sempre constante. Sempre.
"Deixa em cima desta mesa a foto que eu gostava; pra eu pensar que o teu sorriso envelheceu comigo. Deixa eu ter a tua mão mais uma vez na minha, pra que eu fotografe assim o meu verdadeiro abrigo. Deixa a luz do quarto acesa, a porta entreaberta. O lençol amarrotado mesmo que vazio. Deixa a toalha na mesa e a comida pronta. Só na minha voz não mexa, eu mesmo silencio. Deixa o coração falar o que eu calei um dia. Deixa a casa sem barulho achando que ainda é cedo. Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia. Deixa tudo como está e se puder, sem medo. Deixa tudo que lembrar eu finjo que esqueço. Deixa, e quando não voltar eu finjo que não importa. Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito pra dizer te vendo ir fechando atrás a porta. Deixa o que não for urgente que eu ainda preciso. Deixa o meu olhar doente pousado na mesa. Deixa ali teu endereço, qualquer coisa aviso. Deixa o que fingiu levar mas deixou de surpresa. Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo. Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande. Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo. Se o adeus demora, a dor no coração se expande. Deixa o disco na vitrola pra eu pensar que é festa. Deixa a gaveta trancada pra eu não ver tua ausência. Deixa a minha insanidade, é tudo que me resta! Deixa eu por à prova toda minha resistência. Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro. Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila. Deixa pendurada a calça de brim desbotadoque, como esse nosso amor, ao menor vento oscila. Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa. Deixa um último recado na casa vizinha. Deixa de sofisma e vamos ao que interessa. Deixa a dor que eu lhe causei agora é toda minha. Deixa tudo que eu não disse mas você sabia. Deixa o que você calou e eu tanto precisava. Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia. Deixa tudo o que eu pedia mas pensei que dava. "

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Eram fatos inquestionáveis. Não estavam mais juntos e era o ponto final. Tinha que se admitir que aquelas mãos já não eram dela, aquele abraço, aquele sorriso... não mais. Sentia-se como se tivessem arrancado as pálpebras de seus olhos, fazendo assim com que eles não mais se fechassem e, permanecessem abertos durante todas as noites, dias, noites e dias. Faltava um pequeno pedaço, apenas um pequeno momento. Faltava fechar os olhos. Faltava encontrar cada gota de suor, faltava arranhar, beijar, morder... faltava gritar, sentir, amar. Pensava que talvez fosse melhor desistir e procurar outra ocupação. E qual? Nem ela sabia - ou talvez não quisesse mesmo saber. Então, como não podia ser diferente, ela continuava de olhos abertos vivendo na tal rotina de alegrar seus olhos calejados com a velha utopia de sempre.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Eu olho pra cama meio vazia, o copo totalmente cheio. Cheio de tanta esperança, cheio de tanta lembrança. Tento beber até a última gota, mas parece que quanto mais eu bebo mais aparece, mais ele tenta me consumir.
E eu ainda brindo à ele. Brinco com ele.
Sinto-me dormente, adormecida. Embreagada de tantas emoções estranhas, de tantas frustrações. Depois de embreagar-me real e, insanamente, volto para casa e... A cama ainda está meio vazia. Sinto que preciso de algo mais forte do que apenas aquele copo, apenas aquele corpo. Trago meu cigarro e junto a cada tragada, busco o alívio que me faltou no copo, e sendo assim, acendo mais um. A fumaça forma desenhos exóticos. E trazem também lembranças... - malditas lembranças. Preciso de mais um porre, preciso de mais um maço de cigarros, e preciso, mais do que tudo, que minha cama - lê-se nossa cama - não esteja mais meio vazia.