domingo, 14 de dezembro de 2008

Parte II

- Vamos, não precisa ter medo de tudo isso. Não mordo, isso posso garantir.

Disse Adam, com as mãos estendidas para que ela o segurasse.

- Já está tarde, Adam. Se chegar depois do pôr-do-sol meus pais vão começar com as mesmas ladaínhas de sempre. "Você é muito nova para estar tanto tempo longe de casa e blá blá", bem sabe como eles são.

- Ao menos pegue minha mão.

E ele continuava com a mão estendida para que ela o tocasse. Ele precisava. Precisava mais que tudo levá-la para longe daquela multidão.

- Adam... Ér, eu...
- Vamos lá Lisa, por favor.

Ela estendeu a mão. Estendeu também a sua vontade de sair correndo com ele, e não importava mais pra onde seria. Queria apenas ir. Queria apenas Adam.

Continuaram andando um pouco, absurdamente sem graça. Quase não se encaravam, apenas andavam em meio aquelas crianças, balões e brinquedos do parque.
Ela nunca sentira medo de subir à moto dele, mas naquele momento ela estava. Não sabia se era medo, mas sentia algo estranho, inusitado. Mas foi; sua vontade era infinita, e sua curiosidade quase no mesmo nível.

- Se eu for mais rápido que aqueles carros, você sentirá medo?
- Claro que não. Não tenho medo de nada, esqueceu?
- Ui Senhora SemMedo. Vamos então... Quero te levar pra longe daqui.
- Pra onde?
- Só canta, gata.
- Haha.. Imbecil.

E eles saíram... Enquanto ele cantava aquela música que ela odiava, só para irritá-la, ela ia pensando no quanto gostava de estar na companhia de Adam, e em como estar abraçada à cintura dele, com o rosto colado em suas costas, faziam com que ela se sentisse estranhamente feliz. Nem ligou para música. Nem ligou para péssima voz do rapaz.

Continuação (...)
Ela sentia fome. Mas não fome de comida, mas sim, fome de diálogo, de verdade. Era como se um universo paralelo se formasse entre ela, e o resto do mundo. Levava uma vida balanceada entre sua parte boa e sua parte ruim... e concordo que por vezes, nem tão balanceada assim. Era ruim às vezes, de fato. Mas não era má... era apenas frágil. Não, não fique se perguntando se uma coisa leva a outra, porque a resposta é mais simples do que se pode pensar. Sua ruindade era tamanha, que ela aguentava calada todos os tipos de sentimentos, e ainda assim, conseguia sorrir. Era tão ruim, que carregava consigo os problemas e angústia dos outros, sem conseguir sequer devolve-los aos donos. Captava o amor no ar... e ah, como aquela menina sabia amar. Amava os outros. Amava os animais. Amava até mesmo a idéia de amar... Mas de tão frágil que era, formava a sua pseudo-normalidade. Para todos se mostrava alguém forte, e de difícil compreensão. O que quase ninguém sabia, é que aquela menina, era tão simples em suas complexidades. Ah, aquela menina...
Durante a noite, que supostamente foi feita para o descanso, me pego exercitando (lê-se forçando) ainda mais meu cérebro com todas as minhas imensas suposições. E eu não consigo acreditar que por breves momentos me coloco fora da minha história e, fico apenas como telespectadora de mim. Analiso minhas falhas, que diga-se de passagem, são inúmeras; meus sorrisos desnecessários, meus abraços e preocupações absurdamente deixados de lado por qualquer mízero motivo. A famosa conversa entre anjos e demônios que não param de brigar dentro da minha cabeça, que como já havia dito, insiste em forçar pensamentos desagradáveis a essa hora da madrugada. E é exatamente a essa hora, olhando a chuva, que me vem as imagens mais bonitas de toda minha vida... Só que dessa vez com legenda.Meus pensamentos heróicos da madrugada, do tipo "Sim, dessa vez será diferente..." , parece que são desfeitos ao raiar do sol. E na manhã seguinte tudo volta ao normal, tudo. Lembro-me sempre das coisas que passei, das que superei e sobrevivi SIM, heróicamente. Então, cada desapontamento, cada chaga na minha alma a torna blindada. Blindada contra os que não sabem cultivá-la, cativá-la e, acima de tudo, amá-la como deve.
Santa madrugada.

É inevitável.

Olhar para o chão e não imaginar suas roupas espalhadas, misturando-se com as minhas poucas. Deitar na cama em que nós, possuídos por sabe-se-lá qual espírito, nos amamos louca e intensamente. E claro, sua boca ainda está em minha nuca, suas mãos em minhas pernas, e aquele calor arrematador me domina a cada recordação.

Mas continua inevitável.

Meu corpo inflama. Meu coração dispara. Você não aparece de madrugada para preencher o vazio.

E é inevitável.

Me arremate, me beije, me bate. Seus lábios bem traçados que entram em contraste com o sorriso simetricamente perfeito, seus dedos longos e cumpridos que me acariciam e brincam com o meu cabelo. Então agora me diz... como evitar? É impossível. Inevitável.