domingo, 23 de agosto de 2009

Toalha branca, mesa, taça de vinho.

As flores aparentes na minha janela estão muito bonitas nessa manhã de sábado. O sol entra sem o menor pudôr, sem o menor constrangimento de interromper o ofício atribuído à Morpheu.

- Traga mais uma garrafa!

Consigo abrir um dos meus olhos. Um já é mais do que suficiente!
Esse frio congelante me faz encolher as pernas tão brancas quanto o lençol.
Tento rolar na cama ignorando o intruso, ignorando as vozes. É tudo em vão.

- Deixe-me ajudá-la a tirar...

Preciso levantar! No mínimo, abrir o outro olho - quem sabe assim eu consiga analisar o outro lado da janela.

- Pegue suas coisas, pode ir embora!

Agora com os dois olhos abertos consigo ver melhor... as flores amarelas estão um tanto festivas. Odeio flores amarelas festivas em pleno sábado de manhã!
Pensar em descer todas essas escadas até a cozinha me faz ter vontade de deitar novamente, recolher minhas pernas novamente, esquecer novamente.

- Não esqueça de deixar tudo pago...

E essas coisas que não saem da minha cabeça? Quero cantar alto!
Cantar tão alto quanto o eco dessas lembranças.
Procurar o remédio para dor de cabeça não vai fazê-las parar. Preciso que parem...
Não quero continuar lembrando, não posso!

Lembro que o bater da porta foi o último ruído que eu ouvi, até entrar em transe.
Como eu cheguei até aqui eu não sei. Não sei como subi essas escadas - malditas escadas.
Eu, o objeto em questão, estava totalmente fora de mim.

Não acho o remédio para dor de cabeça. Eu juro que estava nessa gaveta!
Usou de uma sutileza para me seduzir. Falou-me algumas bobagens, algumas frases romanticas tiradas de livretos baratos. Eu caí... sempre acabo caindo.
Alguns beijos nos meus ombros e eu estava entregue. Totalmente entregue.

Era um quarto de hotel barato.
Tão barata quanto eu!
E é só nisso que eu consigo pensar. No quarto de hotel barato...
Depois de tê-lo satisfeito completamente, resolvi que era minha hora.
Ele simplismente ignorou o pedido e, subtamente, virou-se para dormir.
Já haviam me dito que homens comprados eram totalmente frios.
Mas ele não podia ser assim.
Era comprado, eu o tinha comprado, mas para minha plena realização.
Odeio essa merda de coração, nem entender que é tudo uma farsa.

Não adiantou eu tê-lo acordado em berros, tapas e arranhões. Ele jamais entenderia minha verdadeira intenção.
E agiu como todo homem comprado age. E eu? Eu agi como toda mulher de classe agiria.
Quem eu tento enganar? Que classe? Sou mais miserável que essas putas beira-de-rua. Elas são mais dignas de amor. Sou mais digna de pena.
Vesti minha roupa e saí. O ruído da porta foi a última coisa que eu me lembro.

E são justamente em dias assim como este, com um sol lindo e exuberante, com flores amarelas festeiras, que eu percebo o quanto meu limite bancário é pouco para antigir o coração daquele homem.

Por fim, desisti de amá-lo; comprá-lo.
E agora as toalhas já não são tão brancas, já não existe vinho, nem muito menos taça.
Só um copo descartável, água e esse comprimido para dor de cabeça que eu tinha certeza que estava guardado na gaveta.

Um comentário:

  1. Poxa vida amor...
    Que texto lindo...

    Isso foi um sonho? Pensamentos loucos...?
    Desabafo...?

    Lembra que eu te amo, tá?
    Sempre sempre! =*

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